Na última semana de Janeiro, na cidade de Granja, a cerca de 320 quilômetros de Fortaleza, arqueólogos flagraram pichações sobre desenhos rupestres localizados nos sítios arqueológicos Carnaúbas e Pedra dos Pilões. O flagrante ocorreu durante o cadastramento e recadastramento finalizados pela Inside Consultoria Científica, em trabalho contratado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério do Turismo.

A empresa realizou o levantamento na região noroeste cearense desde o dia 9 de janeiro, e já havia visitado 35 sítios arqueológicos nas cidades de Irauçuba, Forquilha e Sobral. O levantamento técnico ocorreu em 38 sítios e consistiu na coleta de vários dados técnicos, dentre eles a localização geográfica e as condições gerais dos sítios. Inicialmente, haviam sido listados 42 sítios, mas quatro acabaram ficando de fora após o cruzamento das informações sobre o georreferenciamento.
Depois de mais de três semanas de trabalho, o arqueólogo e também diretor da Inside Consultoria, Wagner Veiga, avaliou como satisfatórias as condições dos sítios arqueológicos visitados apesar da vandalização de dois dos 38, que integraram o serviço de consultoria realizado a pedido do Iphan. “ Podemos considerar satisfatórias as condições dos sítios, apenas em dois observamos impacto por conta da ação humana e que merece atenção”, ressaltou Veiga.
“Essa questão (pichações) está sendo levada ao conhecimento do Iphan, e é quem poderá discutir o assunto com a prefeitura e com o Estado no sentido de adotar medidas para a preservação do patrimônio histórico em questão, e só aí saberemos qual a possível ação a ser adotada”, pontua o arqueólogo.

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Com experiência de comandar outros projetos de pesquisa e ações relacionadas a empreendimentos variados no Pará, Amazonas e no sul do país, Wagner Veiga chama atenção à necessidade de se preservar as ricas informações contidas nos 38 sítios cadastrados e recadastrados no Ceará.
Pelo projeto, tratam-se de dados e expressões supostamente manifestadas por indígenas que habitavam os territórios antes do descobrimento do Brasil, de acordo com o projeto de pesquisa formulado pela Inside Consultoria Científica. “Realizar um bom projeto de educação patrimonial com a população e capacitar moradores para serem guias nos sítios arqueológicos”, defende Veiga sobre a preservação desses espaços.

COMUNIDADE
Francisco Aguiar Júnior, 35, é morador de Irauçuba e acompanhou o trabalho de levantamento arqueológico realizado nos sítios Fazenda Olinda, Pedra do Sino, Letreiro e Abrigo das Emas. Interessado na ação dos arqueólogos e já conhecedor da região, Francisco já sabe da importância da preservação patrimonial.
“Tive a oportunidade de trabalhar como guia e não foi a primeira vez. Achei importante, pois além de receber por isso, aprendi e dei mais valor ainda ao nosso patrimônio histórico. Espero que as autoridades e toda a população ajudem nessa preservação”, comentou Francisco.

RUPESTRES
Nos 38 sítios arqueológicos visitados pela equipe da Inside, um vasto registro fotográfico de figuras foi feito, grande parte formado por desenhos rupestres. Com experiência em projetos junto ao Iphan, o arqueólogo Everaldo Gomes aponta várias possibilidades de expressão demonstradas no levantamento técnico da Inside Consultoria Científica.
“De cenas do cotidiano, atos religiosos e presença de animais. Muitas são as expressões das imagens e gravuras, baseadas em teorias antropológicas. Não podemos afirmar quais animais, mas os habitantes daqueles locais poderiam demonstrar o desejo de caçar e capturar animais”, explicou Everaldo.

UNESCO
Desde 1989, o morador de Forquilha, Celio Cavalcante, pesquisa voluntariamente sobre a atividade de Arqueologia nas regiões norte e noroeste do Ceará. Envolvido em atividades acadêmicas, na produção de notícias e no acompanhamento de atividades arqueológicas, Célio utiliza seu trabalho na Forquilha FM para divulgar fatos sobre a Arqueologia. Conhecedor da realidade de muitos sítios, Celio sempre lembra da importância de se resguardar o patrimônio relacionado aos sítios arqueológicos assim como a educação patrimonial. Ele que mantém o blog “Forquilha ontem, hoje e sempre”, conta que já encaminhou ofício à Secretaria de Cultura de Forquilha assim como das cidades do norte e noroeste do estado, a fim levar dados científicos das pesquisas de campo às administrações municipais, e com isso possibilitar que as cidades atinjam o status de patrimônio histórico da humanidade.
“Não obtive resposta das prefeituras até então. Não deixamos de enviar documentos para que essas cidades sejam reconhecidas como patrimônio histórico da Unesco”, revelou ele que também é correspondente da Associação Cearense de Jornalista do Interior (ACEJI).

Texto e fotos – ASCOM Inside Amazônia